Era noite em Jerusalém, a luz da lua refletia nas pedras que
revestiam as ruas da cidade. Soprava um vento frio e havia poucas
pessoas pelos becos. Nicodemos, príncipe dos judeus, sabia que próximo a
sua casa Jesus estava reunido com os discípulos. Ele especulara durante
todo o dia, planejando um encontro com Aquele que lhe causava espanto:
Quem era Jesus afinal?
O importante homem da sinagoga calça
as sandálias e põe a capa, cobre bem o rosto e segura firmemente o
tecido com as mãos à altura do pescoço. Nicodemos estava certo,
determinado a tirar todas as suas dúvidas. Caminha apressadamente,
olhando para os lados e enfim bate á porta da pequena casa. Lá estava
Jesus, rodeado pelos discípulos que O ouviam atentamente.
Nicodemos?! Espantados, alguns olhares
se entrelaçam em incertezas: Por quê? O que faz ele aqui? Para dois ou
três presentes, não era surpresa a chegada de Nicodemos, eles o haviam
orientado sobre dia, hora, local e teor dos encontros.
Sem se importar com os murmurinhos
causados por sua chegada, Nicodemos acomoda-se e no momento oportuno
revela o motivo de sua ida: “Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de
Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não
for com ele.” Jo 3:2. “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade, te digo
que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” Jo 3:3.
A resposta de Jesus deixa Nicodemos
ainda mais confuso. Ele não compreendia a linguagem do alto porque seu
espírito estava corrompido pelas muitas letras, pela racionalidade das
coisas. Tantos anos estudando as escrituras, ensinando na sinagoga sem
nunca ter se detido a “nascer de novo”. Onde estava escrito esses
termos? Em que livro, capitulo, versículo? “Como pode um homem nascer,
sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e
nascer de novo? Jo 3:4.
“A idade embriológica da
gestação é contada a partir da fecundação do óvulo. No entanto, é
praticamente impossível a identificação do momento em que ocorreu a
fecundação ou a data correta do coito ou da ovulação. Por isso,
convencionou-se contar a idade da gravidez a partir de um marco mais
fácil de identificar: o primeiro dia do último período menstrual da
mulher. Trata-se da idade obstétrica da gravidez.” (fonte)
Jesus falava de um nascimento
espiritual, onde brotaria no âmago do ser, no espírito, o fruto da
fecundação, do encontro entre Deus e o homem. Em que momento da vida de
Nicodemos ele despertou para Deus? Em que momento da minha e da sua
vida, passamos a acreditar em algo maior e superior a reger o universo?
Talvez na infância, quem sabe na juventude, talvez seja impossível
determinar o despertar da fé, mas certamente existiu um momento em que o
“óvulo foi fecundado”.
Nicodemos conhecia em parte. Era um
relacionamento superficial, onde a lógica imperava. Ele perguntava e sua
mente respondia tudo parecia ir muito bem, até o dia em que percebeu a
esterilidade dos seus ensinamentos: Ele continuava infeliz. A Palavra
pregada por Jesus era a mesma que Nicodemos lia dia após dia: Moisés
libertando os cativos e Deus operando maravilhas no deserto, o que
estava errado? “Nicodemos, tu és mestre em Israel e não sabes o que é
nascer de novo?” Jo 3:10.
Aquele encontro seria o marco na vida
de Nicodemos, o dia da “idade obstétrica”. Que gravidez tão longa!
Nicodemos era um senhor de barba branca, porém criança no Reino!“Na
verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino
de Deus. Aquele que não nascer da água e do espírito não pode entrar no
reino de Deus” Jo 3:5.
Jesus mexeu com as entranhas do mestre
que pensara conhecer muito bem sobre circuncisão de coração. Então era
isso! E como Moisés era um tema conhecido de Nicodemos, Jesus cuida de
fazê-lo compreender melhor a mensagem: “Como Moisés levantou a serpente
no deserto, assim importa que o filho do homem seja levantado. Para que
todo aquele que nele crê não pereça mais tenha a vida eterna” Jo 3:14:
15.
Do encontro entre Jesus e Nicodemos
surgem os arrebatadores versículos responsáveis pela entrada de muitas
pessoas ao Reino. A lição não era apenas para o determinado fariseu que
percorreu a escuridão da noite em direção aquele encontro, era para mim e
para você, para a eternidade.
Não vejo Nicodemos como um covarde,
por se esquivar da fúria de seus contemporâneos, indo ter com Jesus à
noite. O vejo como um corajoso homem que venceu a si mesmo e humilhou-se
em busca da verdade. Muitos versículos depois, vamos reencontrar
Nicodemos, juntamente com José de Arimatéia preparando o sepultamento de
Jesus (Jo 19:38, 42). Ele já, andava na Luz, que é Jesus.
O encontro entre trevas e Luz,
Nicodemos e Jesus, traduz a acessibilidade ao Reino: É para todos os que
buscam, crêem. O fariseu, de barba grisalha não foi expulso daquela
reunião, nem massacrado, nem ouvido com sarcasmo, menosprezado. Jesus o
amou, o recebeu por seu, e desvendou-lhe o Reino dos céus.
“Porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” Jo 3:16
É assim também conosco. Como estamos,
onde e por quê? Jesus se interessa por nós. Simplesmente ama e nos
aguarda para uma reunião particular, para um encontro, um marco, que
será lembrado como o dia do “novo nascimento”. Aquele em que esquecendo o
que para trás ficou, tudo se fez novo (II Cor 5:17).
Nicodemos já não ensinava mais sobre
Páscoa como sendo um acontecimento apenas histórico, mas também
espiritual, já não era o mesmo. Acredito que ele tenha sido um discípulo
frutífero, conduzindo outros ao Reino. Inesquecível aquele encontro!
Nicodemos saiu vitorioso! É isso que significa seu nome: em
grego Νικοδημος (Nikodemos) que significa "vitória do povo", do grego
νικη (Nike) "vitória e"δημος (demos) "o povo" . Todo aquele que tem esse
encontro com Jesus, é vitorioso, porque no novo nascimento está o
sentido da vida, da morte, da eternidade. É a saída das trevas e a
entrada para a Luz, tendo como Senhor e Mestre, Jesus.
Wilma Rejan
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