Nos
últimos dias, andei pensando sobre políticos evangélicos. Corre entre
nós, em quase todas as igrejas, a crença de que basta eleger um “homem
de Deus” para garantir que atributos como honra, decência e moralidade
permeiem as ações do eleito, uma vez em cargo público. Entretanto, a
maioria não se posiciona acerca de alguns temas ou se envolve em ações
no mínimo estranhas para quem diz seguir os passos de Jesus. E faz isso
em função de seus partidos e do jogo político, não da Bíblia e do Reino
de Deus.
Marina
Silva, por exemplo. Admiro a ex-senadora em razão de sua história de
vida e do modo como superou um destino quase traçado em direção à
pobreza e à ignorância. Marina trouxe oportunamente para o debate, nas
igrejas, a questão do meio ambiente, relacionando a Bíblia à preservação
da natureza. Isso foi importante no meio evangélico. Mas confesso que
esperei que a ex-senadora declarasse abertamente seu posicionamento
acerca do casamento gay, do PL 122 ou do aborto durante a campanha
presidencial. Provavelmente temendo desagradar muitos de seus eleitores,
Marina Silva deixou de dizer claramente o que deveria ter dito. Não
esperei que ela tivesse iniciado uma guerra de opiniões com setores
liberais que a apoiam, mas aguardei que ela dissesse enfaticamente que a
Bíblia condena a prática homossexual e o aborto, e que a Palavra de
Deus deve ser divulgada sem restrições.
Outro
político que me surpreende é Magno Malta. O senador capixaba empreendeu
uma severa e significativa luta contra a pedofilia. Sua iniciativa é
lembrada como necessária e justa. Antes da CPI da Pedofilia, criada por
ele em março de 2008, não havia dados suficientes para análise nem
tampouco leis que punissem a pedofilia de modo severo. A luta
empreendida pelo senador em defesa das crianças e dos adolescentes
brasileiros foi admirável. Graças a sua iniciativa, a Câmara aprovou, em
dezembro do ano passado, a alteração do Código Penal e do estatuto da
Criança e do Adolescente para transformar em crime hediondo atos ligados
à pedofilia. A contradição é que Magno Malta apoiou a candidata do PT à
Presidência da República, em 2010, mesmo diante de toda a defesa que o
partido faz do aborto e do casamento gay. Além do mais, recentemente seu
nome compôs a lista dos eleitores do novo presidente do Senado Federal,
Renan Calheiros, que em 2007 renunciou ao cargo de senador para não ser
investigado pelas acusações de desvio de dinheiro público, falsidade
ideológica e uso de documento falso.
Marina
Silva e Magno Malta são apenas dois exemplos, conhecidos, de políticos
evangélicos que, no jargão popular, acendem uma vela para Deus e outra
para o diabo: enquanto tomam atitudes louváveis e defendem causas
justas, omitem-se diante de temas polêmicos ou assumem posturas
antibíblicas. Poderia citar outros homens e mulheres públicos de
relevância que, em momentos de sua trajetória, contradisseram, com seus
atos ou sua omissão, sua profissão de fé. Não vemos nenhum deputado
federal ou senador evangélico, por exemplo, defendendo a austeridade no
uso do dinheiro público, como o faz brilhantemente o deputado José
Antônio Reguffe, de Brasília. Exemplos de honestidade, lisura e ética
não deveriam partir de cristãos? Mas nos sobram políticos como Garotinho
e Benedita da Silva, acusados de crimes eleitorais e comuns no
exercício do poder. Dos 56 deputados que compõem a Frente Parlamentar
Evangélica, 32 têm problemas com a Justiça, respondendo a acusações de
desvio de dinheiro público, corrupção eleitoral, sonegação fiscal e
formação de quadrilha. Dos 24 deputados da denominação Assembleia de
Deus, por exemplo, 11 estão sendo processados. E 95% da bancada estão
entre os mais faltosos.
É a hora
de acordarmos para a triste realidade dos políticos que, oriundos de
igrejas evangélicas, agem parcialmente em relação ao Reino de Deus. Vale
a pena elegê-los? Fica a pergunta.
Maya Felix
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