A Fundação da Igreja em Filadélfia
Filadélfia foi
fundada em 140 a.C. por Átalo II. Em homenagem a seu irmão Eumenes, e
por seu amor fraterno a ele, a cidade chamou-se Filadélfia. Com um
solo extremamente fértil, a cidade tornou-se conhecida por seus vinhos e
bebidas refrigerantes. Um templo foi erguido entre 69 e 70 d.C. em
homenagem e para culto ao imperador Vespasiano.
O ponto forte de Filadélfia era a sua localização estratégica, o que a
tornou rota obrigatória do correio imperial nas comunicações entre o
ocidente e o oriente.
Assim como em
Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira e Sardes, o Evangelho pode ter
chegado naquela cidade através da obra missionária de Paulo (At 19.10),
mas não devemos descartar a hipótese de que testemunhas e convertidos
no dia de Pentecostes poderiam ter sido os primeiros a levar o
Evangelho para aquela região (At 2.5-11).
A Condição da Igreja em Filadélfia
Ao
anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas coisas diz o santo, o
verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará,
e que fecha, e ninguém abrirá: (Ap 3.7)
Em sua apresentação
à igreja em Filadélfia, o Senhor Jesus destaca três de seus
atributos: santidade, verdade e autoridade soberana. Na condição de
santo: “Ele é absolutamente separado de todas as Suas criaturas e
exaltado sobre elas, e que Ele é igualmente separado da iniqüidade
moral e do pecado”. Como verdade, o conhecimento, declarações e representações do Cristo Deus se conformam eternamente com a realidade. Ele é aquele de plena integridade, confiabilidade e fidelidade.
Em sua autoridade soberana, Ele governa sobre tudo e sobre todos, e
ninguém pode lhe impor limites. Ele realiza sua vontade no céu e na
terra (Mt 28.18) sem impedimento algum (Ef 1.11; Rm 11.36). Por isso, Ele abre e ninguém fechará, e fecha e ninguém abrirá.
Conheço
as tuas obras — eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a
qual ninguém pode fechar — que tens pouca força, entretanto, guardaste
a minha palavra e não negaste o meu nome. (Ap 3.8)
Junto com Esmirna,
Filadélfia não é repreendida pelo Senhor. São muitas as indicações da
forte influência da igreja em Filadélfia através dos séculos, mesmo
quando o islamismo tornou-se a religião dominante naquela região. Na
primeira metade do século 20, cinco congregações cristãs ainda
floresciam em Filadélfia.
Há praticamente
consenso entre os estudiosos das Escrituras de que a “porta aberta”
citada na carta se relaciona com onde Filadélfia estava estabelecida, o
que facilitava a pregação do Evangelho (1 Co 16.9; 2 Co 2.12; Cl
4.3). Dessa forma, através da igreja em Filadélfia, o Evangelho era
livremente e ativamente pregado e ensinado.
No caso da “pouca força” da igreja, alguns comentaristas atribuem o fato ao número pequeno de crentes na cidade, enquanto que outros afirmam a carência de poder espiritual, em comparação com o Pentecoste. Há ainda os que alegam a ausência de riquezas materiais, pujança teológica e de celebridades.
Independente do significado de “pouca força”, na graça de Jesus a
igreja permaneceu fiel ante a oposição dos da sinagoga de Satanás (Ap
3.9), a quem o Senhor promete fazer vir e curvar-se diante deles,
levando-os a admitir o amor de Jesus por sua igreja.
Lições que Aprendermos com a Igreja em Filadélfia
A igreja em Filadélfia nos ensina grandes lições e nos deixa belos exemplos.
Em primeiro lugar, é
necessário continuar aproveitando a liberdade de pregação do
Evangelho em terras nacionais, mas sem se descuidar com as missões
transnacionais. O brasileiro é privilegiado com a pluralidade de seu
estereotipo, o que facilita a sua infiltração em qualquer nação e
povos no mundo. Infelizmente, a pregação do Evangelho vem se
enfraquecendo, e os recursos que deveriam ser investido em missões e nos
missionários são gastos com luxo, superfluidade denominacional e e
pessoal por parte de algumas lideranças. Em muitos lugares se pratica
uma falsa generosidade, onde o líder da igreja vive com um altíssimo
salário (além de outros privilégios), enquanto seus auxiliares, na
grande maioria, ganham pouco mais do que o mínimo. Quando reclamam,
escutam que precisam aprender a viver pela fé, enquanto o próprio líder
não vivencia esse tipo de fé. Será que esses líderes passariam hoje na
prova do jovem rico, aqui adaptada?
Disse-lhe
Jesus (ao presidente): Se queres ser perfeito, vai, vende os teus
bens, dá aos pastores e obreiros auxiliares e terás um tesouro no céu;
depois, vem e segue-me. Tendo, porém, o presidente ouvido esta
palavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades. (Adaptado de Mt 19.21-22)
Não me refiro aqui a
ninguém especificamente, e o Senhor é minha testemunha. Nem estou
afirmando que todo “presidente de igreja” é rico, avarento e injusto.
Conheço muitos que vivem dignamente, em justiça, e em generosidade o
Evangelho de Jesus. Falo apenas de circunstâncias e fatos da vida
evangélica real. Alguém certa vez me disse que eu deixaria de ser
convidado por algumas igrejas por causa de minhas colocações. Penso
que enquanto houver pastores sérios e tementes a Deus à frente de
igrejas, o Senhor continuará a me “abrir portas” através de seus servos
fiéis. Creio naquele me chamou, e que me achou digno para o santo
ministério. Não posso recuar diante daquilo para o qual fui designado.
Para isso, conto com a graça de Jesus, com o poder do Espírito e com
as orações dos santos.
Se Jesus não era
mais rico do que os apóstolos, e se os apóstolos não foram mais ricos
do que os bispos e presbíteros, se os bispos e presbíteros não foram
mais ricos que os diáconos, e se a liderança da igreja de forma geral
não era necessariamente mais rica que os membros, de onde vem a ideia
de que quanto maior o cargo na igreja, mais dinheiro e posses se deve
ter? Pura mentalidade capitalista selvagem. Prego aqui algum tipo de
socialismo ou comunismo cristão? Não, antes, na atual conjuntura, falo
de encurtar as distâncias econômicas entre obreiros, e entre obreiros
e igreja.
Em segundo lugar,
as portas para a pregação do Evangelho não são abertas por fórmulas
mágicas ou estratégias mirabolantes de evangelização ou crescimento de
igreja. Deus coopera com o homem (1 Co 3.9) na pregação do Evangelho,
mas todo raciocínio e lógica humana precisam estar submissos a sua
soberana vontade e direção (At At 13.1-3; 16.6-10).
Em terceiro lugar, a
força espiritual de uma igreja não está no tamanho dela, na opulência
dos seus templos, na influência social de seus membros, no dinheiro
guardado em caixa, nem no seu patrimônio histórico, material e
cultural. A força espiritual de uma igreja não pode ser aferida
somente pelas manifestações dos dons espirituais, das línguas, das
profecias, dos milagres, das curas, etc. A força e a autoridade
espiritual de uma igreja local se relacionam diretamente com a sua
obediência incondicional ao seu Senhor. Diante desta autoridade, não há
sinagoga de Satanás que possa prevalecer.
Termino como nas
demais cartas, citando as promessas de Jesus à igreja em Filadélfia,
que podem se manter, ou se tornar nossas também:
Porque
guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da
hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para
experimentar os que habitam sobre a terra. Venho sem demora. Conserva o
que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Ao vencedor, fá-lo-ei
coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também
sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova
Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo
nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. (Ap 3.11-13)
[1] KISTEMAKER, Simon. Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 208.
[2] ANDRADE, Claudionor. Os sete Castiçais de Ouro: a mensagem final de Cristo à Igreja. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 114.
[3] THIESSEN, Henry Clarence. Palestras introdutórias à Teologia Sistemática. São Paulo: IBRB, 1987, p. 81.
[4] Ibid., p. 84.
[5] WILLIAMS, J. Rodman. Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. São Paulo: Vida, 2011., p. 58.
[6] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: HAGNOS, 2001, p. 332
[7] KISTEMAKER . Ibid., p. 209.
[8] Ibid., p. 211.
[9] SILVA, Severino Pedro. Apocalipse versículo por versículo. 11 ed. São Paulo: CPAD, 1985, p. 55.
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