segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Políticos Evangélicos: o paradoxo

Nos últimos dias, andei pensando sobre políticos evangélicos. Corre entre nós, em quase todas as igrejas, a crença de que basta eleger um “homem de Deus” para garantir que atributos como honra, decência e moralidade permeiem as ações do eleito, uma vez em cargo público. Entretanto, a maioria não se posiciona acerca de alguns temas ou se envolve em ações no mínimo estranhas para quem diz seguir os passos de Jesus. E faz isso em função de seus partidos e do jogo político, não da Bíblia e do Reino de Deus.
Marina Silva, por exemplo. Admiro a ex-senadora em razão de sua história de vida e do modo como superou um destino quase traçado em direção à pobreza e à ignorância. Marina trouxe oportunamente para o debate, nas igrejas, a questão do meio ambiente, relacionando a Bíblia à preservação da natureza. Isso foi importante no meio evangélico. Mas confesso que esperei que a ex-senadora declarasse abertamente seu posicionamento acerca do casamento gay, do PL 122 ou do aborto durante a campanha presidencial. Provavelmente temendo desagradar muitos de seus eleitores, Marina Silva deixou de dizer claramente o que deveria ter dito. Não esperei que ela tivesse iniciado uma guerra de opiniões com setores liberais que a apoiam, mas aguardei que ela dissesse enfaticamente que a Bíblia condena a prática homossexual e o aborto, e que a Palavra de Deus deve ser divulgada sem restrições.
Outro político que me surpreende é Magno Malta. O senador capixaba empreendeu uma severa e significativa luta contra a pedofilia. Sua iniciativa é lembrada como necessária e justa. Antes da CPI da Pedofilia, criada por ele em março de 2008, não havia dados suficientes para análise nem tampouco leis que punissem a pedofilia de modo severo. A luta empreendida pelo senador em defesa das crianças e dos adolescentes brasileiros foi admirável. Graças a sua iniciativa, a Câmara aprovou, em dezembro do ano passado, a alteração do Código Penal e do estatuto da Criança e do Adolescente para transformar em crime hediondo atos ligados à pedofilia. A contradição é que Magno Malta apoiou a candidata do PT à Presidência da República, em 2010, mesmo diante de toda a defesa que o partido faz do aborto e do casamento gay. Além do mais, recentemente seu nome compôs a lista dos eleitores do novo presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, que em 2007 renunciou ao cargo de senador para não ser investigado pelas acusações de desvio de dinheiro público, falsidade ideológica e uso de documento falso. 
Marina Silva e Magno Malta são apenas dois exemplos, conhecidos, de políticos evangélicos que, no jargão popular, acendem uma vela para Deus e outra para o diabo: enquanto tomam atitudes louváveis e defendem causas justas, omitem-se diante de temas polêmicos ou assumem posturas antibíblicas. Poderia citar outros homens e mulheres públicos de relevância que, em momentos de sua trajetória, contradisseram, com seus atos ou sua omissão, sua profissão de fé. Não vemos nenhum deputado federal ou senador evangélico, por exemplo, defendendo a austeridade no uso do dinheiro público, como o faz brilhantemente o deputado José Antônio Reguffe, de Brasília. Exemplos de honestidade, lisura e ética não deveriam partir de cristãos? Mas nos sobram políticos como Garotinho e Benedita da Silva, acusados de crimes eleitorais e comuns no exercício do poder. Dos 56 deputados que compõem a Frente Parlamentar Evangélica, 32 têm problemas com a Justiça, respondendo a acusações de desvio de dinheiro público, corrupção eleitoral, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Dos 24 deputados da denominação Assembleia de Deus, por exemplo, 11 estão sendo processados. E 95% da bancada estão entre os mais faltosos.
É a hora de acordarmos para a triste realidade dos políticos que, oriundos de igrejas evangélicas, agem parcialmente em relação ao Reino de Deus. Vale a pena elegê-los? Fica a pergunta.
 
Maya Felix

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